quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

A sete palmos...


Essas paredes são itens que perturbam minha mente desprovida de pensamentos sãos; sinto o sopro da loucura desejoso em destruir meu equilíbrio.

Agora, novamente o silêncio me perturba. É a mesma paragem de som que liga meu desequilíbrio como num botão “on/off” de um equipamento. Gostaria de fazê-lo parar por intermédio de gritos, mas não consigo.
  – Onde estou? – penso.

São quatro paredes bem estreitas próximas ao meu corpo, não há portas, não há janelas, também não teria espaço para tê-las.
– Socorro! – grito em pensamento.

Tento colidir meu ombro contra as paredes acolchoadas, mas nada acontece.
– O que está acontecendo? Droga! Isso só pode ser um pesadelo!

Soco a parede frontal (a única na qual não era acolchoada) até ferir minhas mãos, mas nada acontece. Então, bato com a minha cabeça e na primeira colisão sinto minha testa doer fortemente, mas insisto. Minutos depois, já sangrando, consigo abrir uma fissura; algo cai sobre mim e incomoda meus olhos...
  – Cristo! É terra!

Mil pensamentos passam em minha mente; a insanidade está presente em meus movimentos restritos, o desespero me consome brutalmente, sinto minha face ser molhada por uma lágrima de dor e loucura, estou desfalecendo aos poucos, sem ar. Estou tonta.

Silêncio.

– Meu Deus! Eu fui enterrada viva! Socorro! – penso em gritar, mas meus lábios estão obstruídos... – levo minhas mãos à boca. – Meu Deus, eles estão costurados! Este é o meu fim! – penso.

O silêncio insiste e eu me desespero ainda mais. Começo a pensar o porquê de eu ter sido enterrada viva.
– Merda!

Uso meu precioso tempo para decidir quem teria feito isto comigo e chego à única conclusão possível:
– Hélio Krayn, aquele desgraçado não aceitou nossa separação! Só pode ter sido ele.

Silêncio.
           
– Este é o meu fim! – Repito desesperada.

Tento mais uma vez empurrar a parede frontal. É inútil.

– Isso é ridículo. Tenho que sair daqui!

Na tentativa de empurrar a tampa desta maldita caixa sinto algo incomodar meu tato.

– Parece-me que tem algo escrito aqui... Em braile... Cego maldito! Só podia ter sido o ele mesmo. Mas quem o ajudou a fazer isto? – penso – Bem, deixe-me ver o que louco escreveu:

“Olá querida Angel, se está lendo este texto com as pontinhas lindas de seus dedos delicados, significa que meu objetivo está prestes a ser cumprido. Você vai morrer!
Pensou que o fato de estar casada com um cego facilitaria esconder a sua vida podre? Traidora!
Agora você realmente apodrecerá. Mas fique tranqüila; não será tão ruim, uma vez que a podridão já faz parte da sua vida. A escolha foi sua. Beijos em sua boca costurada e curta cada minuto.
Com ódio, Hélio Krayn.”      

(Kim Montebello)

Aprecie um conto do meu livro - "Delírios da Escuridão", em breve nas livrarias.

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