Essas paredes são itens
que perturbam minha mente desprovida de pensamentos sãos; sinto o sopro da
loucura desejoso em destruir meu equilíbrio.
Agora, novamente o silêncio me perturba. É a
mesma paragem de som que liga meu desequilíbrio como num botão “on/off” de um
equipamento. Gostaria de fazê-lo parar por intermédio de gritos, mas não
consigo.
– Onde estou? – penso.
São quatro paredes bem estreitas próximas ao
meu corpo, não há portas, não há janelas, também não teria espaço para tê-las.
– Socorro! – grito em
pensamento.
Tento colidir meu ombro contra as paredes acolchoadas,
mas nada acontece.
– O que está
acontecendo? Droga! Isso só pode ser um pesadelo!
Soco a parede frontal (a única na qual não era
acolchoada) até ferir minhas mãos, mas nada acontece. Então, bato com a minha
cabeça e na primeira colisão sinto minha testa doer fortemente, mas insisto.
Minutos depois, já sangrando, consigo abrir uma fissura; algo cai sobre mim e
incomoda meus olhos...
– Cristo! É terra!
Mil pensamentos passam em minha mente; a
insanidade está presente em meus movimentos restritos, o desespero me consome
brutalmente, sinto minha face ser molhada por uma lágrima de dor e loucura,
estou desfalecendo aos poucos, sem ar. Estou tonta.
Silêncio.
– Meu Deus! Eu fui enterrada viva! Socorro! – penso
em gritar, mas meus lábios estão obstruídos... – levo minhas mãos à boca. – Meu
Deus, eles estão costurados! Este é o meu fim! – penso.
O silêncio insiste e eu me desespero ainda
mais. Começo a pensar o porquê de eu ter sido enterrada viva.
– Merda!
Uso meu precioso tempo para decidir quem teria
feito isto comigo e chego à única conclusão possível:
– Hélio Krayn, aquele
desgraçado não aceitou nossa separação! Só pode ter sido ele.
Silêncio.
– Este é o meu fim! – Repito desesperada.
Tento mais uma vez empurrar a parede frontal. É
inútil.
– Isso é ridículo. Tenho que sair daqui!
Na tentativa de empurrar a tampa desta maldita
caixa sinto algo incomodar meu tato.
– Parece-me que tem algo escrito aqui... Em
braile... Cego maldito! Só podia ter sido o ele mesmo. Mas quem o ajudou a
fazer isto? – penso – Bem, deixe-me ver o que louco escreveu:
“Olá querida Angel, se está lendo este texto com as
pontinhas lindas de seus dedos delicados, significa que meu objetivo está
prestes a ser cumprido. Você vai morrer!
Pensou que o fato de estar casada com um cego facilitaria
esconder a sua vida podre? Traidora!
Agora você realmente apodrecerá. Mas fique tranqüila; não
será tão ruim, uma vez que a podridão já faz parte da sua vida. A escolha foi
sua. Beijos em sua boca costurada e curta cada minuto.
Com ódio, Hélio Krayn.”
(Kim Montebello)
Aprecie um conto do meu livro - "Delírios da Escuridão", em breve nas livrarias.
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