segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013

Samara Montelay

 
Estava escuro, muito escuro, quando abri meus olhos e avistei o horizonte ermo. Percorri o ambiente descalça e apavorada sem lembrar o que havia acontecido comigo e por que eu me encontrava dentro de um cemitério. Após alguns segundos olhei para minha retaguarda e li com dificuldade um nome escrito em dourado sobre um jazigo de mármore preto, onde há pouco me encontrava desmaiada. Era muito confuso, algo como: “Alesking Hamunatrinck”. Não sabia quem era e tampouco me fez lembrar de algo. Então, pus-me a buscar o portão de saída. De repente, um homem apareceu em minha frente. Era alto, magro e com feições de rato. Imediatamente indagou-me:

- Senhorita, o que faz por aqui há essa hora?

- Não sei! – respondi atônita – Quem é você?

- O coveiro... Hah! Eu me chamo George. E você?

- Samara. – soou seco.

Não sabia o que estava acontecendo comigo. Sentia-me estranha; diferente seria a palavra correta. Estava gelada, porém não sentia frio. Eu podia ouvir, a distância, as veias daquele homem saltitando, seu coração acelerado, parecia demonstrar que ele tinha tanto medo de mim quanto eu dele. O que estava acontecendo comigo?

Levei as mãos sobre minhas regiões temporais e fechei meu semblante demonstrando dor. Ele percebeu que eu não estava bem e, querendo me ajudar, vagarosamente aproximou-se. Ele também não parecia sentir-se bem e ao chegar bem próximo de mim, seu nariz começou a sangrar. Com isso, percebi que aquele homem era hemofílico.

Fui tomada por um desejo insano, queria possuí-lo de qualquer modo. Em outro tempo me sentiria uma vadia no cio, mas era algo mais forte do que eu; o queria mais do que tudo. Agarrei-lhe, acariciei seu pescoço com a lateral da minha face e de repente aconteceu. Minha mente apagou, parecia que eu havia perdido a memória, na verdade eu havia perdido o controle do meu eu humano. Quando acordei, alguns flashes de sobrevivência vampiresca tomaram a minha mente. Em seguida, vi aquele homem no chão, com a jugular perfurada esvaindo em sangue; não conseguia entender o por quê. Afinal de contas, quem havia feito aquilo com George?

Levei minha mão direita à boca ao sentir um gosto estranho, olhei-a e percebi que era sangue. Não é possível! Seria eu a culpada pela sua morte? Como? Por que eu faria aquilo? E os flashes vampirescos, por quê?

Absolutamente paranóica, senti algo incomodar minha boca. Levei a mão até meus dentes e senti meus caninos maiores e super afiados.

- Não pode ser! – gritei – Será que eu, Samara Montelay, sou uma vampira? Isso não pode ser real!

Corri para o lado esquerdo do cemitério e me deparei com uma cruz gigantesca, senti-me fraca e parecia que minha carne se queimava. O céu começara a clarear. Instintivamente procurei proteger-me. Porém, desesperada, comecei a pensar no que havia feito com George e percebi que não queria que isso voltasse a acontecer. Preferia a morte a ser uma assassina eterna. Alimentar-me de sangue era surreal demais para mim. Jamais me acostumaria. Por isso, me escondi atrás de uma árvore e esperei os primeiros raios de sol iluminar o dia. Tomei coragem, engoli o choro e corri frente à cruz. Um raio de sol atravessou-a e atingiu meu peito; senti cada fractal do meu corpo queimar e se destruir. Assim, gritei o último clamor da minha vida:

- Morro como vampiro, mas recuso-me a viver como assassina!
                                                   
(Kim Montebello)

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Obrigada pelo comentário!